Sabe o "I" que tem aparecido com frequência na sigla "LGBTI"? Ele é de intersexo, pessoas que nasceram com anatomia sexual e/ou padrão de cromossomos que não podem ser classificados como sendo tipicamente masculinos ou femininos.
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Nesta sexta-feira 26 celebra-se o Dia da Visibilidade Intersexo. A data lembra o 26 de outubro de 1996 quando houve manifestação pública de pessoas intersexo em frente à Academia Americana de Psiquiatria, em Boston, Estados Unidos, que realizavam conferência anual.
Para marcar a data, nossa reportagem conversou com a sexóloga e parceira da marca Innuendo Dra. Nelly Kim Kobayashi para abordar de forma didática e do ponto de vista clínico essa parcela da população que ainda é um mistério para muitos.
"Pessoas intersexo são raras, cerca de 1 pessoa a cada 4.500 nasce com questões específicas de diferenciação sexual", explica a sexóloga.
Muitos acreditam, erroneamente, que pessoas intersexo têm ambos os aparelhos reprodutivos desenvolvidos. Nada disso. Aliás, intersexo nem precisam ter algo externo que denote diferença física em relação à maioria de homens e mulheres.
"Cada caso é um caso. Vai depender tanto da presença ou não de genitália ambígua (genitália com características femininas e masculinas), quanto qual a gônada presente (ovários ou testiculos) e quais cromossomos sexuais apresenta (XX ou XY). Em alguns casos, o paciente pode apresentar genitália externa normal", afirma a Dra. Nelly.
De acordo com a médica, assim que a criança nasce, ela deve ser vista por especialistas para definir qual o tratamento que será executado e o acompanhamento será por toda a vida.
"Alguns fatores são considerados. O sexo genético (por exemplo XX ou XY), o sexo gonadal (se há testículos ou ovários), e o sexo fenotípico (fisicamente feminino ou masculino)", diz.
"Por exemplo, um pessoa com insensibilidade a androgênios, cujas células não respondem ao hormônio masculino, apresenta cariótipo XY (geneticamente masculino), tem testículos que produzem testosterona e seu sexo fenotípico é feminino (possui genitália externa feminina e é fisicamente feminina, mas não tem útero nem ovários). Nesse caso, não ocorrerá cirurgia para adequação da genitália, pois não é ambígua, mas a pessoa pode ser submetida a cirurgia para remoção dos testículos (para diminuir o risco de câncer), e iniciar a terapia hormonal."
Aliás, a cirurgia, segundo a médica, sequer é ideal nos primeiros anos de vida da pessoa.
"Em alguns casos, não é possível saber qual será o sexo a ser definido no paciente (pode apresentar características de ambos os sexos), por isso deve-se adiar essa definição (cirúrgica ou hormonal) até que o próprio paciente, com apoio da família, tenha maturidade e possa participar ativamente nessa escolha", explica.
Se LGBT, em geral, enfrentam mais transtornos psicológicos que os demais, com intersexo não é diferente. "Na adolescência, várias questões podem começar a surgir. O adolescente pode começar a se ver diferente dos demais, sendo maiores as chances de depressão e ansiedade", diz.
Apoio psicológico e psiquiátrico também são fundamentais. "A pessoa deve receber ajuda para aprender a reconhecer a si mesmo e saber como lidar com essa alteração da forma mais amena possível."
Em um país onde a saúde pública é tão deficitária, tal qual o Brasil, nascer intersexo também é enfrentar barreiras financeiras.
"Há a necessidade de estrutura mínima que contemple realização de exames complementares, de imagem, dosagens hormonais, exames citogenéticos. Faz-se necessário seguimento com especialistas nessa área, como endocrinologista, pediatra, cirurgião, geneticista e psiquiatra infantil, que estão habituados a lidar com essa população."
Nem é preciso dizer, mas só para reforçar que intersexo não é uma orientação sexual e, portanto, pessoas intersexo podem ser héteros, homo ou bissexuais como quaisquer outras.