Deputado federal Professor Israel se assume gay

Parlamentar do PV foi criado em família de pastores evangélicos

Publicado em 10/10/2021
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Parlamentar afirmou que começou a pensar em se assumir após fala de Bolsonaro contra gays

O Congresso Nacional ficou mais arco-íris: o deputado federal Professor Israel (PV-DF) assumiu-se gay. Agora são quatro parlamentares da comunidade LGBT no Poder Legislativo federal.

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"Não preciso ser mulher para defender os direitos das mulheres. Não preciso ser preto para defender uma pauta antirracista. Não preciso sofrer perseguição para exigir tolerância, respeito. E não precisaria nem ser gay para defender os direitos humanos, a comunidade LGBTQIA+, no país que mais mata gays na América", afirmou ao Correio Braziliense.

Professor de história e criado em família de pastores evangélicos, Israel Batista foi eleito deputado em 2018 com a educação como principal bandeira.

Ele revela que começou a pensar em se assumir após uma fala do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).

"Ficou claro, para mim, quando o presidente disse que a homossexualidade era uma questão de educação, e que bastava dar uns tapinhas, umas chineladas, e o menino virava homem. Aquilo magoou muito minha família. Modéstia à parte, eu recebi uma educação primorosa dos meus pais", lembra-se.

"Eles são muitos rigorosos. Exigem de nós as notas mais altas, exigem de nós quatro comportamento muito adequado. São pessoas muito corretas, muito religiosas. E eu vi que aquilo os feriu profundamente. E essa tristeza que chegou aos meus pais ficou ali sendo curtida por muito tempo. Até que eles vivenciassem também um processo para entender que o que esse maluco estava falando não tinha nada a ver com a realidade."

No Congresso, Israel diz que "as piadas, o desdém, a ironia, a ameaça"  são constantes "especialmente em certos grupos políticos". Ele lembra, no entanto, que há "outros tantos parlamentares que, no primeiro sinal de agressão, de ataque a mim, se levantariam com muita força contra isso. Não aceitariam de jeito nenhum".

O deputado revela que as piadas sobre sua orientação sexual aumentam quando ele está sozinho e se tornaram mais incisivas na discussão do voto impresso.

"Porque era uma pauta que mobilizava uma parte da sociedade brasileira que considera normal desrespeitar alguém por conta da orientação sexual. No debate do voto impresso, em que eu defendi que a gente superasse essa pauta de forma muito enfática, eu senti mais", conta.

Israel considera o "outing" do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), "importante" e diz que após o episódio pensou sobre o que se precisa ter em mente neste momento.

"Há um momento político no Brasil em que a neutralidade pode parecer conivência. Não estamos nesse momento. Esse é um momento de combate, de dizer que nós não aceitamos que este país seja dominado pela barbárie", afirmou o político ao Correio Braziliense.

"A gente não deveria ter que falar sobre isso, mas viver isso. Mas esse momento exige fala, posicionamento, postura. Exige que a gente tenha coragem de enfrentar esse estado de coisa que está se formando no Brasil."

O parlamentar lembra da importância da representatividade e do combate a práticas como a "cura gay".

"No Congresso, a gente tem projetos em andamento que falam sobre o controle de difusão do discurso de ódio nas redes sociais. Que fala também sobre o controle da propagação de métodos da cura gay. Isso é um absurdo, tem gente que fica traumatizada para o resto da vida. São pautas que precisam ter apoio no Congresso", diz.

"Na educação, minha trajetória é longa. Entendo que um jovem, um adolescente, que está vivendo esse momento, precisa ter referências. Precisa se enxergar em uma posição de respeito. Precisa ver que pessoas como ele podem estar na política, na segurança pública, na saúde, na educação. Podem ser juízes. Para mim, a gente precisa estruturar a educação para que promova uma sociedade apta à diversidade."

O deputado também revela que namora há um ano o enfermeio Geovane Resende. "Um menino bom, enfermeiro, me enche de orgulho. Trabalha no Senado. É professor de cursinho também. É um namoro novo, tem menos de um ano. Está bom."

Com 39 anos, Israel já foi casado e fala que hoje sua ex-mulher, Paula, é uma grande amiga. Ele diz que sua homossexualidade ficou mais clara para ele mesmo quando estavam juntos e tinha cerca de 24 anos.

"Mas foi importante me abrir com a pessoa em quem eu confiava absolutamente. Não foi um processo simples."

Antes de chegar ao Congresso, ele foi eleito duas vezes deputado distrital (pelo Distrito Federal) em 2010 e 2014.

Professor Israel se junta a outros dois deputados da comunidade LGBT atualmente no Congresso: David Miranda (Psol-RJ), que é gay, e Vivi Reis (Psol-PA), bissexual. Soma-se a eles o senador Fabiano Contarato (Rede-ES).

Outro homossexual, Marcelo Calero (Cidadania-RJ) fazia parte da Câmara dos Deputados, mas renunciou ao mandato para ser secretário na Prefeitura do Rio de Janeiro. 

 

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