Distrito Federal teve ao menos 11 paradas LGBT canceladas em 2022

Principal motivo foi atraso na aprovação de projetos na Secretaria de Cultura

Publicado em 28/12/2022
parada orgulho Ceilândia
Parada de Ceilândia é uma das que não foram à rua em 2022. Foto: Gay1

Dois mil e vinte e dois foi o ano em que centenas de organizadores de paradas do orgulho LGBT pelo Brasil disseram: "Depois de dois anos sem podermos ir às ruas por conta da pandemia, agora estamos de volta". Entretanto, no DF, essa não foi a realidade. 

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Ao menos 11 marchas arco-íris não foram realizadas na capital federal por falta de recursos financeiros.

Aí estão Ceilândia, Itapoã, Cruzeiro, Samambaia, Riacho Fundo II, Brazlândia, Guará, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Paranoá e Riacho Fundo I. 

O número foi maior que o de paradas que venceram as dificuldades e foram realizadas: Brasília, Santa Maria, Taguatinga, Sol Nascente, São Sebastião e Planaltina. 

Esse cenário com tantas marchas canceladas é inédito na capital federal. 

A causa maior desse fato foi o atraso na aprovação de projetos na Secretaria de Cultura do Distrito Federal. As propostas contam com emendas orçamentárias do deputado distrital Fabio Félix (Psol), que é gay. 

A falta de apoio privado leva os organizadores a contar apenas com verba pública. 

Responsável pelo projeto Brasília sem LGBTfobia e presidente da ONG Judih, Maurício Martins falou do processo desgastante e longo com o órgão governamental. 

"Afirmam que há uma lista de prioridades na secretaria para análise. Em outro momento, dizem que há poucos funcionários para dar conta das análises... Toda hora alegavam algo."

A espera foi tamanha que cinco paradas inclusas no projeto não puderam ser realizadas. O projeto teve o ok final nos últimos dias de novembro. Como não haveria tempo para organizar as marchas, a saída foi realizar um festival de quatro dias em dezembro. 

Líder do coletivo União das Paradas LGBT do DF, Alysson Prata passou pelo mesmo calvário. Sete marchas não puderam ser realizadas. A emenda foi liberada com muito atraso e será usada para seminário em maio de 2023. 

Em resposta ao Guia Gay Brasília, a Secretaria de Cultura falou de ações realizadas para LGBT e admitiu haver poucos recursos humanos para trato célere dos processos. 

"No que diz respeito às emendas, especificamente, só em 2022 empenhamos R$ 1,69 milhão em quatro projetos com esse enfoque. No entanto, não conseguiríamos, até por uma questão de força de trabalho, realizar todas as emendas que chegam até a Secretaria a um só tempo, uma vez que elas possuem um trâmite de aprovação que independe do nosso trabalho."

O resultado é frustração e revolta dentre ativistas. A presidente do Grupo Livre LGBT de Samambaia, Greycy Campos, é exemplo. 

"Meu sentimento é profunda tristeza porque sei que o preconceito é uma doença que tem de ser tratada dia após dia. E a visibilidade proporcionada pela parada é fundamental nesse trabalho. Sinceramente, sinto-me cansada. É como se minha voz não chegasse até aqueles que deveriam olhar para nós LGBT", disse ao Guia Gay Brasília.

A ativista Gil Padylha, organizadora da marcha de Planaltina, exige mudanças. 

"É muito, muito complicado fazer o movimento sem dinheiro. E esse processo todo é humilhante! A quantidade de nãos que recebemos para fazer algo que é importante para a cidade. Precisamos de uma lei, uma norma, que obrigue o governo do DF a executar as emendas. E que o Poder Público colabore no lugar de onerar ainda mais os eventos. Há cobranças, por exemplo, de limpeza pública sendo que nosso evento é uma manifestação política. A lei nos isenta dessa tarifa."


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