Mãe e filha são confundidas com lésbicas e têm carro atacado

Caso ocorreu em Fernando de Noronha por conta de foto que elas tiraram juntas na praia

Publicado em 15/12/2020
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Administradora catarinense Karina Ramos e a mãe. Pouco depois da foto, houve abordagem

Parece irreal, mas mãe e filha, heterossexuais, foram alvo de homofobia em Fernando de Noronha.

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A administradora catarinense Karina Ramos contou ao G1 que na sexta-feira 11 ela e a família foram abordadas por funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

"Ele não foi grosseiro, mas chegou perguntando ‘vocês conhecem as regras do parque?’ e achamos que podíamos ter feito algo de errado, nadado em alguma área imprópria. Daí ele falou: ‘é porque eu recebi uma queixa de um pessoal ali de cima por conta do ato entre as duas mulheres’. Ninguém entendeu", contou Karina.

A administradora estava com o marido, da mãe e do padrasto.

Todos ficaram sem entender nada de imediato, mas a mãe de Karina lembrou de algo que poderia ter provocado a denúncia: uma foto que tiraram juntas na areia cinco minutos antes.

"Minha mãe falou 'só pode ser a hora que fui tirar uma foto contigo, filha’. Depois, ela disse a ele que não tinha ato nenhum, que éramos mãe e filha. Ele tentou despistar o assunto, falou que era para a gente esquecer que aquilo tinha acontecido. Eu perguntei se teria problema se realmente fôssemos um casal e ele disse que não era para se preocupar, porque não era o caso", afirmou a administradora.

"Eu já me dei conta na hora que era por conta de algo preconceituoso, homofóbico. A gente estava viajando há seis dias, cada uma com seu marido, e não tinha acontecido nenhum problema. Quando dissemos que éramos mãe e filha, eu vi que ele [fiscal] ficou todo sem jeito."

A família permaneceu na praia por mais 15 minutos e levou um susto quando foi pegar o buggy alugado para sair dali. O automóvel estava com o parabrisa quebrado.

Eles fizeram o correto nesta situação: foram à delegacia dar queixa, mas encontraram um empecilho.

"Fomos para a delegacia de Noronha, porque o pessoal começou a dizer para a gente ir, porque soubemos que o local tinha câmeras e queríamos ver o que tinha acontecido. Quando chegamos lá, não houve nenhum grande interesse sobre isso. Por duas vezes, o funcionário da delegacia disse que o B.O. não iria nos isentar de pagar o prejuízo do veículo", afirmou Karina.

"Dissemos que estávamos ali porque queríamos saber quem tinha feito aquilo. Só que começou a demorar muito e perguntamos o que estava acontecendo, então o moço disse que a internet estava lenta. Como tínhamos um voo, acabamos não fazendo o registro", disse a turista.

Mais tarde, Karina registrou a queixa pela internet. Ela também relatou o ocorrido à Ouvidoria do ICMBio, mas disse não ter tido resposta.

"A sensação que a gente ficou foi a de medo, quando a gente viu o buggy quebrado. E se só estivéssemos eu e minha mãe, como já fomos outras vezes? Talvez eu passe só umas duas vezes por essa situação na vida, mas e se nós fôssemos um casal, qual seria o problema? Pessoas gays não podem ir a Noronha?", questionou a turista.

Por meio de nota, a EcoNoronha, concessionária responsável por prover serviços de infraestrutura, alimentação, recepção de público e conscientização ambiental no Parque Nacional Marinho, disse ter entrado em contato com Karina "como forma de se solidarizar e demonstrar acolhimento, repudiando toda e qualquer forma de discriminação que a família possa ter sofrido". A empresa também afirmou ter fornecido as imagens disponíveis ao ICMBio.


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