Por Welton Trindade
O amor para sempre existe? Sou nada romântico. Essa eu passo! Existe a admiração para sempre? Dessa posso falar! E até mais: dar exemplo.
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Em entrevista no programa Conversa com Bial na terça 14, Aguinaldo Silva deu mostras de como o mundo gira e a hipocrisia e a alienação podem pegar carona nos movimentos de translação e rotação da Terra.
Bial quis saber do autor de novelas qual a opinião sobre a fala de Ney Matrogrosso sobre si: "Que gay é o caralho. Sou é um ser humano."
Sem piscar, Silva concordou. E atacou. E decepcionou. "Concordo. E o erro dos ativistas gays é tratarem todos de uma só forma, como se fossem iguais. Não somos iguais. Cada um de nós somos diferentes."
Bial, sem pressa, concordou e finalizou acefalicamente algo como "Querem falar de diversidade, mas acabam com a diversidade".
E vão os dois, na sequência, falarem mal do "policamente correto". Versos tão irritantes quanto os do sertanejo atual: "Que vida chata não poder humilhar os outros".
Aí, você, de cueca no sofá, se revolta. Mas está na madrugada de feriado. Os telefones da Globo não atenderiam. Não tenho Whats do Bial. Nem sei se Silva usa Snap. Como chamar os dois senhores à razão?
Eis que a vida mostra que não é só madrasta. Eles próprios, segundos após, se banham de hipocrisia, mordem a língua.
Bial pergunta a Silva sobre gerontofobia, e chega a explicar: preconceito contra pessoa idosas.
Aí vem a pergunta do meu sofá: "Uai, gerontofobia é vocábulo novo! Vem da onda da luta contra palavras que ferem, humilham e embasam atos preconceituosos. Que dizer: falam mal do tal 'politicamente correto', mas recorrem a ele para defender um segmento?" Minha cueca não suporta hipocrisia (nenhuma delas).
E Silva explica que, na internet, o xingam de velho + alguma coisa. "Velho viado, velho idiota, velho pedófilo..."
Que dizer: o bípede que segundos antes desqualificava ativistas gays agora se revela vítima de ódio, evidencia, por experiência própria, o quanto é preciso trabalhar para superar preconceitos. Ele falaria mal também de ativistas idosos?
E mais: na lógica deles e do terceiro nesse ato despolítico (o senhor Ney), não teria sentido reclamar de preconceito contra idosos. Falariam em ré maior: "Idoso é o caralho, sou é um ser humano."
Falaram isso? Não!
Quem fala, concorda ou assina embaixo de gay é o caralho, idoso é o caralho como forma de desqualificar o trabalho contra a discriminação não tem o direito de reclamar de preconceito.
Se gay é o caralho (gosto dos dois, viu?), então não venha querer o resultado e pegar bandeira do movimento homossexual. Se o que você é é ser humano, então não queira evocar para si, nem para defesa, nada de nenhum movimento identitário: idosos, negros, deficientes etc. Vá reclamar ao Greenpeace dos seres humanos!
Se rechaçam os que plantam o bem, não venham querer os frutos dessa mesma árvore.
Admiração para sempre? Aguinaldo Silva, que enfrentou a ditadura militar para fazer o Lampião da Esquina, jornal satírico e ativista gay dos anos 70 e 80, há muito só desqualifica a causa arco-íris.
Silva, o gay que ficou no passado de atuação política. Restaram rugas de vergonha. Daquelas que botox não encobrem. Cérebro não pode ser botocado!