A visibilidade para bissexuais é tão importante que é essa a palavra que marca a data mais importante para o segmento, o 23 de setembro.
Nos últimos anos, essa luta ganhou novas inimigas: versões da bandeira do orgulho que apagam a vivência e a identidade bissexuais.
Sob o argumento de dar projeção a alguns dos vários segmentos que compõem a comunidade LGBT, têm surgido em média a cada dois anos releituras da bandeira arco-íris. São triângulos e faixas novas. Bissexuais nunca são lembrados.
Algumas das versões utilizadas por empresas multinacionais no Brasil destacam apenas as cores da bandeira trans.
Assessor da Aliança Nacional LGBTI+ e ativista bissexual, Edson Maciel explicou como tais propostas vão contra o que seu segmento tem como necessário.
"É óbvio que precisamos dar visibilidade para a comunidade T, visto que são as que mais sofrem com violência, preconceito e marginalização, mas de forma alguma podemos reverter esses preconceitos enquanto apagamos vivências e sexualidades de outras pessoas", disse à nossa reportagem.
Integrante do setorial arco-íris LGBTQI+ do Livres, Gabriel Spalenza vai no mesmo sentido.
"A proposta de nova versão da bandeira arco-íris é tão preconceituosa e excludente quanto o reacionarismo homofóbico. A bissexualidade é parte legítima das pautas LGBTQIA+. Receber fogo aliado e reforçar a invisibilidade de bissexuais só alimenta um toxicidade dentro do movimento que enfraquece todas as lutas internas."
A reportagem ouviu cinco bissexuais e todos defenderam a bandeira arco-íris como símbolo coletivo do movimento e cada segmento empunhar a sua própria.
Essa é a posição de André Luiz de Lima, que já representou bissexuais no Conselho Estadual LGBT de São Paulo.
Para ele, a bandeira do orgulho tem a qualidade de justamente ser para a pluralidade de pessoas.
"A bandeira arco-íris é de todas identidades e cada letra tem a sua própria. Sou contra qualquer mudança! Fica uma informação muito confusa. Além disso, a cada dia, surgem segmentos. Como vão fazer? Vão mexer na bandeira cada vez que isso acontecer?"
O ativista bissexual André Sardão, de São Paulo, faz coro.
"Sou por uma bandeira única, a do arco-íris para todo movimento. Não entendi ainda em que momento e por quê foram criadas outras, nem se a pauta é a mesma."
Chiclete, presidente da APA LGBT do Litoral Paulista, não poupa palavras para qualificar as propostas de modificar a bandeira do arco-íris, feita no fim dos anos 1970 por Gilbert Baker e reconhecida no mundo inteiro.
"Isso é palhaçada! Estão é querendo dividir o movimento! Seria a mesma coisa de dividir a bandeira do Brasil e colocar na outra metade a de São Paulo! Não tem sentido nenhum! A bandeira arco-íris representa todas as siglas! Debaixo do arco-íris cabem todas as identidades, sempre foi assim! E será! Deixem nossa bandeira em paz!", disse ele, um dos poucos bissexuais presidentes de paradas do orgulho LGBT no Brasil.
Edson Macial explica porque a importância de rejeitar mudanças na bandeira, cuja versão em 2021 leva triângulos com faixas marrom, preta, azul e rosa, além do amarelo do segmento intersexo com círculo roxo.
"Com certeza o melhor é manter a bandeira arco-íris, que representa toda comunidade LGBTI+. E cada segmento tem sua própria bandeira. A comunidade bi sofre apagamento histórico, preconceito alicerçado no imaginário de que nós bissexuais podemos usufruir do chamado "privilégio hétero" sendo que, na verdade, sofremos preconceito em dobro, tanto de fora da comunidade quanto de dentro."