Um padre é acusado por oito monges de assédio e abuso sexual no interior de Minas Gerais.
Ernani Maia dos Reis, de 53 anos, é tema do documentário-reportagem Nosso Pai, produzido pelo UOL e lançado nesta quinta-feira 30.
O site ouviu 40 pessoas que conviveram com o padre Ernani, que foi líder do Mosteiro Santíssima Trindade, em Monte Sião (a 470 km de Belo Horizonte).
O religioso usava de técnicas de psicanálise para que as vítimas desabafassem com ele e usava o que tinha ouvido para persuadi-las a fazer sexo.
Os crimes teriam ocorrido entre 2011 e 2018 e as idades das vítimas variam entre 20 e 43 anos.
Os relatos têm pontos em comum. Os homens dizem que Ernani os chamava em seus aposentos para ver TV. Ele, geralmente, vestia cueca e lhes oferecia bebidas, tais como vinho, cerveja e cachaça.
Em outras vezes, o assédio teria sido praticado em viagens. Sob alegação de comprar mantimentos, Ernani costumava escolher um monge (nunca uma mulher) em visitas a cidades.
Um das vítimas falou da abordagem. "Um dia ele me chamou para tomar uma cerveja na casa dele, pediu para passar creme [nas pernas]. Ele dizia: 'Eu sou seu pai. Você precisa ter uma boa relação comigo, senão não vai ter uma boa relação com Deus'."
Ernani pedia que fosse chamado por todos de "Nosso pai", daí o nome do documentário.
"Ele me abraçou e começou a tocar o meu corpo. No final, transou comigo. Foi uma coisa abusiva. Foi ruim, não foi uma coisa como se eu quisesse. Foi uma situação horrível para mim", contou outra vítima, que disse ter sido seduzida em viagem a Campinas (SP).
Esta vítima foi a primeira a acusá-lo ao deixar o mosteiro, em 2018. A partir daí, outros monges também começaram a se pronunciar.
Foi iniciada investigação pela Igreja Católica. Ele também foi acusado de assédio moral contra 11 pessoas - 10 delas, mulheres.
Ernani negou as acusações, alegou "cansaço e desmotivação" e pediu seu afastamento. Ele foi levado a uma clínica na Região Metropolitana de Curitiba.
Meses depois, já em 2019, mudou-se para Franca (SP), onde mantém consultório de psicanálise.
A Igreja não respondeu à reportagem sobre o andamento da investigação.
Ernani fundou, em Passos (MG), em 1994, comunidade de leigos chamada "Monges da Trindade". Tratava-de de um grupo de sete homens e mulheres que visitavam casas para rezar e participar de outras atividades religiosas.
Segundo a reportagem, por mais de uma década o grupo passou a atrair cada vez mais pessoas, também de cidades próximas como Monte Sião. Ernani, já líder, causava desconforto na igreja local pelo poder que exercia sobre os membros.
Em 2006, a comunidade foi dissolvida por dom Mauro Pereira Bastos, bispo de Guaxupé (MG), que desconfiava da atuação de Ernani. Naquele mesmo ano, o bispo morreu em acidente de carro, aos 51 anos.
Ernani se dizia perseguido pelo bispo e outros religiosos. Seu grupo se mudou para Monte Sião, no sul de Minas, sem pedir autorização à Diocese de Guaxupé.
Na nova cidade, o grupo contou com ajuda de dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho, arcebispo de Pouso Alegre (MG), que o ajudou a ser formalmente reconhecido.
Ernani estabeleceu uso de hábito e em 2009 foi ordenado padre.
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