A brincadeira tomou conta das redes sociais nos últimos dias, mas até que ponto resvala em reforçar preconceitos?
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Mostrar a versão feminina dos homens e a masculina das mulheres é o mote do FaceApp, que após ter viralizado, passou a receber algumas críticas nas mesmas redes de ser transfóbico por mudar o gênero das pessoas.
Por outro lado, inúmeras pessoas ressaltam tratar-se de apenas brincadeira e que levantar questões por causa de um aplicativo que será esquecido em poucos dias tira o foco das verdadeiras lutas.
Um texto bastante compartilhado por quem acusa o app é o da ativista trans Bruna G. Benevides.
Bruna afirma que na comunidade trans há discussão sobre o quanto o aplicativo "é uma verdadeira fábrica de disforia para algumas pessoas". Ao mesmo tempo, diz a ativista, a ferramenta pode dar "consolo" e "direção" para transportar pessoas trans que estão no armário.
Para Bruna, a questão não são os filtros masculinos e femininos do app, mas a intenção em que é usado.
"E isso fica muito nítido pelas coisas que eu vi com muita frequência, as pessoas cisgêneras estão usando para deixarem surgir comportamentos que não são aceitáveis para pessoas transgêneras a.k.a. Transfobia", escreve.
"Querem usar o app, usem. Mas não saiam por ai dizendo que 'seriam assim' se fossem travesti ou 'como seria' se fosse trans. Usar 'Transicionei' como legenda é um ABSURDO!", diz.
A opinião é compartilhada pela também ativista Ana Flor, do perfil T de Travesti.
"Gente, um recado: tudo bem fazer FaceApp", escreveu. "Tudo bem se ver de uma outra forma. Mas não vem com essa história de postar foto com 'eu se fosse trans' ou 'eu se fosse travesti' que isso é o cúmulo do ridículo. Não estraga a brincadeira. Faz o teu de boa e sem transfobia. Ok?".
Gente, um recado: tudo bem fazer FaceApp. Tudo bem se ver de uma outra forma. Mas não vem com essa história de postar foto com "eu se fosse trans" ou "eu se fosse travesti" que isso é o cúmulo do ridículo. Não estraga a brincadeira. Faz o teu de boa e sem transfobia. Ok?
— Ana Flor (@Tdetravesti) June 14, 2020
Ela aproveita para dar um recado em respeito à identidade de gênero desta parcela da população.
"As pessoas estão usando um aplicativo onde fazem uma foto com o gênero oposto. Ao postar às fotos, se tratam com facilidade no pronome adequado ao que a foto representa. Viram como é fácil? Pronto, agora façam o mesmo com pessoas trans e travestis: tratem de maneira adequada."
As pessoas estão usando um aplicativo onde fazem uma foto com o gênero oposto. Ao postar às fotos, se tratam com facilidade no pronome adequado ao que a foto representa. Viram como é fácil? Pronto, agora façam o mesmo com pessoas trans e travestis: tratem de maneira adequada.
— Ana Flor (@Tdetravesti) June 14, 2020
Para a escritora trans Helena Vieira, a ferramenta "é uma grande paródia de gênero" e não vê como possa ser encarada como transfóbica.
Em uma thread sobre o assunto em sua página no Twitter, Helena afirma que o sentimento de inadequação não é "exclusividade trans" e que se o aplicativo trata-se de "transfobia recreativa", a montação drag também seria.
"O fato de que pessoas cisgênero possam levar o gênero menos a sério, brincar de transição, significa por em ação outras forças, a força da imaginação política de não ser homem ou não ser homem, de vislumbrar um corpo outro oculto no corpo presente", escreve.