Empoderamento na televisão, surpresas no cinema, nocaute na música. Como foi 2017 para as artes no ponto de vista LGBT?
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A nosso convite, especialistas nas três áreas escolheram o que de melhor - e de pior - o anos nos deu. Há quase unanimidades, alguns destaques mais pontuais e, veja só, alegrias e preocupações que apontam o que nos espera em 2018.
TELEVISÃO
Nilson Xavier, do site Teledramaturgia e colunista do UOL
Destaque na TV aberta: Amor & Sexo (TV Globo), que teve um programa incrível sobre o assunto.
Destaque TV a cabo: Teve uns documentários bons no Canal Brasil, incluindo o Divinas Divas, que estreou nos cinemas antes.
Melhor novela e personagem: Sem dúvida, A Força do Querer com dois personagens incríveis: Ivana-Ivan (Carol Duarte) e Nonato (Silvero Pereira), pelo contraste que a autora deu às duas abordagens, tão diferentes entre si, pela sensibilidade do texto e da direção ao levar os temas para o público.
Tony Goes, do blog Tony Goes e colunista do F5
Destaque na TV aberta: Amor & Sexo que teve este ano talvez sua temporada mais gay. Além de discutir temas como violência contra homossexuais, ainda tivemos Rodrigo Hilbert "montado". Seriedade e humor nas doses certas.
Destaque na TV fechada: Meu destaque vai para a volta de Will & Grace, na rede americana NBC, 11 anos depois de terminada. Vi algumas coisas pela internet e percebi: a sitcom está tão engraçada como antes e ainda mais profunda. Porque agora ela também fala de um tabu na TV, o envelhecimento dos personagens gays.
Melhor novela e personagem:A Força do Querer, que teve personagens trans e travesti. Os dois temas foram abordados com delicadeza e expertise e muito bem aceitos pelo público. Ivana/Ivan foi muito bem interpretada por Carol Duarte.
Surpresa: A de que a população não é tão intolerante quanto querem nos fazer crer alguns grupos reacionários. Se fôssemos mesmo tão conservadores, A Força do Querer não teria feito tanto sucesso.
Decepção:Tirando a Globo, os demais canais abertos mal enxergam LGBT. Todos adoram falar mal da Globo, mas muitos se esquecem que ela é, de longe, a emissora mais simpatizante à causa gay.
MÚSICA
Bruno di Maio, do canal UnboxingPop
3 melhores álbuns: Melodrama, Lorde; Meaning of Life, Kelly Clarkson; The Architect, Paloma Faith.
3 melhores músicas: New Rules, Dua Lipa; Green Light, Lorde; Praying, Kesha.
3 maiores surpresas: O retorno muito bem-sucedido do Rouge com a formação original; o crescimento do pop nacional; a aceitação da música latina em todo o mundo.
3 maiores decepções: Cada vez mais artistas desistindo de criar álbuns e focando em lançamentos de singles avulsos; o comportamento das fan bases nas redes sociais, que por meio de discursos de ódio e bullying fazem da música algo quase negativo e pesado; e a ausência de mulheres nas paradas mundiais.
Celso Dossi, influenciador digital e colunista da Contigo!
3 melhores álbuns: Dua Lipa, Dua Lipa; Melodrama, Lorde; Blue Lips, Tove Lo são incríveis!
3 melhores músicas: New Rules, Dua Lipa; Havana, Camila Cabello; Sorry Not Sorry, Demi Lovato.
3 maiores surpresas: Camilla Cabello surpreendeu ao deixar o Fifth Harmony, que tá meio 'fuén'; Dua Lipa e Tove Lo. Menções especiais para a Anitta, por lançar tantas músicas, inclusive a ótima Downtown, e para Pabllo Vittar, que deu um tapa na cara da família tradicional brasileira, com direito a integrar trilha da novela das nove. Chupa, bancada evangélica!
3 maiores decepções: Witness, da Katy Perry (Bon Appétit talvez seja a pior música do ano); Reputation, da Taylor Swift (ela se faz de vítima ainda); Divide, do Ed Sheeran, ele está ainda mais zzz.
CINEMA
André Fischer, diretor do Festival Mix Brasil
Melhor filme nacional: Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano; Laerte-se, de Lygia Barbosa e Eliane Brum; e o curta O Porteio do Dia, de Fábio Leal.
Melhor filme internacional: Moonlight: Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins; 120 Batimentos por Minuto, de Robin Campillo; Me Chame pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino.
Melhor interpretação: Timothée Chalamet, por Me Chame pelo Seu Nome.
Maior decepção:Tom of Finland, de Dome Karukoski - Estava prometido há pelo menos sete anos. Soltaram um primeiro trailer em 2014 que dava a entender que teria uma narrativa mais quente e moderna. No final das contas, o que assistimos foi um filme que é importante pelo tema que aborda, mas bem, bem caretinha.
Daniel Ribeiro, roteirista e cineasta
Melhor filme internacional: God's Own Country, de Francis Lee; Me Chame pelo Seu Nome; 120 Batimentos por Minuto.
Melhor interpretação: Nahuel Pérez Biscayart, por 120 Batimentos por Minuto; Timothée Chalamet, por Me Chame pelo Seu Nome.
Emílio Faustino, do canal Cinemi e site Empoderadxs
Melhor filme nacional: Divinas Divas, de Leandra Leal; Berenice Procura, de Allan Fiterman; Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano.
Melhor filme internacional:Me Chame pelo Seu Nome; Moonlight: Sob a Luz do Luar.
Melhor interpretação: Valentina Sampaio, por Berenice Procura; Daniel de Oliveira, Aos Teus Olhos.
Lufe Steffen, cineasta e pesquisador de cinema LGBT
Melhor filme: Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio; Mapplethorpe: Look at the Pictures, de Fenton Bailey e Randy Barbato; A Glória e a Graça, de Flávio R. Tambellini.
Melhor interpretação: Posso empatar? Daniela Vega, por Uma Mulher Fantástica, e Esteban Masturini, por Esteros.
Marcio Miranda Perez, realizador e coordenador de programação de filmes do Festival Mix Brasil
Melhor filme nacional: Corpo Elétrico - Marcelo Caetano trouxe um olhar novo sobre o personagem gay no cinema brasileiro, criando sob a ótima do trabalho e do convívio de pessoas comuns a construção afetiva de uma comunidade. Alguma Coisa Assim, de Esmir Filho e Mariana Bastos também merece destaque. O longa partiu das imagens de dois curtas sobre a relação de amizade entre uma garota hétero e um rapaz gay para construir uma história de sentimento puro.
Melhor filme internacional: Sonho em Outro Idioma, de Ernesto Contreras, trata com delicadeza do amor entre dois homens na velhice; How to Talk to Girls at Parties, de John Cameron Mitchell, trouxe de volta a verve debochada do direitor; Me Chame pelo Seu Nome, que teve fila rodando o quarteirão.
Melhor interpretação: Caroline Abras, por Alguma Coisa Assim; e Daniela Vega, por Uma Mulher Fantástica.
Maior decepção:Não vem dos filmes ou de cineastas, mas da onda conservadora que está tentando sufocar os artistas do País em todas as áreas. A censura vem chegando com barulho e é preciso muita atenção e luta para evitar que o Brasil continue andando para trás como está.