Drag queens de Brasília se unem para criar sindicato

Projeto inclui espécie de tabela de cachês e foi motivado por falta de valorização dos profissionais

Publicado em 22/08/2018
drag queen brasília
Para um dos idealizadores da movimentação, o que está em jogo é o futuro da arte drag 

No palco, na entrada da boate, na recepção da festa, você quer uma drag queen linda, bem maquiada, com figurino explêndido, certo? Mas nem tudo nessa profissão reluz! 

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Drag queens do Distrito Federal estão em movimentação muito bem estruturada para que sua arte e seu trabalho sejam valorizados. Até sindicato está no radar purpurinado e realístico desses artistas. 

Quem explica a proposta da articulação é Rafael Lopez, a drag Rafizza. Explica sem esconder a frustação que deu origem à reivindicação. 

"Muitos contratantes tratam nosso ofício como se fosse um hobby, como se ser drag queen não devesse ser levado a sério como profisssão, não merecesse ser reconhecido como um trabalho que precise ser devidamente valorizado", disse Lopez ao Guia Gay Brasília

O estopim foi dado há cerca de 20 dias. "Nós drags sempre conversamos sobre cachê. De forma geral, todas reclamam do valor baixo etc, mas eu não sabia valor exato. Aí, há umas semanas, acompanhei uma amiga na ida a uma festa em que ela iria atuar. E vi lá que ela sofreu pressão, que ela deveria fazer maquiagem x, que deveria usar a peruca assim, assado... Aquilo já me deixou com muita raiva, indignado. E fiquei ainda mais ao saber o valor que ela recebeu pelo trabalho: R$ 30!"

Explica-se: Rafizza não atua em boates. Em carreira ascendente no DF, ela tem ganho destaque por seus vídeos em que registra interação com pessoas na rua e conversas, por exemplo. "Como não atuo em boate, não sabia dessa realidade. E fiquei perplexo com a situação."

Conversa vai, conversa vem, Rafizza fez story sobre isso e veio a repercussão. Mais drags se juntaram e a ação começou a ser estruturada. 

Está no ar questionário com o qual o grupo objetiva ter mais noção da realidade dos profissionais. Mesmo antes do diagnóstico, ideias já existem a respeito dos próximos passos. 

"A proposta é, partir das respostas, sabendo como são as coisas no DF para nós, a gente concretizar um grupo, um sindicato", explica. 

E esqueça as drags apenas com sorrisos fáceis. A movimentação tem base firme e inclui advogado trabalhista, professora na área de precificação e reuniões com o Ministério do Trabalho e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). 

Dentre as perspectivas, está feitura de espécie de tabela, tal como advogados e jornalistas possuem.

"A proposta que já está saindo é que a gente estipule valores médios a serem cobrados como cachê. E haverá especificidades na definição dos valores, por exemplo, com variação de acordo com o tipo de trabalho de cada profissional e o tempo de carreira. As mais antigas devem ter um plus sobre o cachê médio."

Quanto aos contratantes, o clima é de guerra? Lopez afirma que não. "Vamos falar sim com donos de casas, produtores, chegar a um ponto de equilíbrio. Não queremos destruir pontes, queremos estabelecer o diálogo."

O que está em jogo, para ele, é o futuro dessa arte.

"Felizmente a gente acordou para isso. Não dá para cobrar pouco, entrar na onda de muitas casas e produtores que esfregam a logo na cara das profissionais dizendo, 'olhe, a vida vai ser muito linda, vai ser muito feliz'. Isso não paga conta nem geladeira da gente. Se assim continuar, daqui a um tempo não haverá mais drags em Brasília."

O questionário pode ser preenchido até a quarta 23 de agosto. Clique aqui. 


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