Repercutiu muito nas redes sociais e na mídia a informação de que a TV Globo fará remake da novela Pantanal. Para gays, o que chama atenção é o fato de o autor da trama, Benedito Ruy Barbosa, já ter criticado de forma contudente haver homossexuais na televisão.
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A última novela de Benedito que esteve no ar foi Velho Chico (2016). No lançamento da trama, o escritor, hoje com 89 anos, não escondeu sua homofobia. Ao contrário.
"Odeio história de bicha. Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças", declarou o autor ao jornal Extra, em meio a vários jornalistas e pessoas da equipe da novela.
E continuou: "Tenho dez netos, quatro bisnetos e tenho um puta orgulho porque são tudo macho pra cacete."
Também escritora de novelas, a filha Edmara Barbosa tentou interromper o pai ao ouvir tanta homofobia, e ele se exasperou: "Deixa eu falar, ué. É a minha opinião."
Benedito tentou explicar sua colocação, mas suas frases só pioravam sua visão restrita e preconceituosa de mundo.
"Muita gente reclama disso pra mim. O que não é justo é você transformar: só é normal o cara que é bicha, o que não é bicha não é normal. A mulher que é sapatona é perfeita, a que não é sapatona não é legal. É assim que estamos vivendo."
Sua fala não encontra respaldo na realidade. Apenas três anos antes de Velho Chico, a Globo veiculou em horário nobre uma trama - Amor à Vida - protagonizada por um gay mau caráter, Félix (Matheus Solano), que deixava a sobrinha recém-nascida em uma caçamba de lixo nos primeiros capítulos.
No mesmo horário das 21h, em 2014, outro gay, que era péssimo exemplo de ser humano, foi um dos destaques de Império - o blogueiro Téo Pereira (Paulo Betti). Só para citar alguns exemplos.
Após repercussão negativa na imprensa, o diretor de Velho Chico, Luiz Fernando Carvalho, disse que a declaração de Benedito foi "momento infeliz" e que não representa a visão da equipe. Rodrigo Lombardi, um dos protagonistas da trama, fez pouco caso da homofobia do autor.
Houve campanha de boicote, capitaneada por gays, contra o folhetim. Com história arrastada, a novela terminou com 29 pontos, a quinta pior audiência de uma trama das nove em todos os tempos.
O retorno de um marco
A informação do remake foi dada pela própria emissora durante o Fantástico, no domingo 6.
A ideia é que a novela seja recriada para o horário das 21h em 2021 sob adaptação de seu neto, Bruno Luperi.
O folhetim foi veiculado originalmente pela extinta TV Manchete em 1990. Com 22 pontos de média e com vários capítulos que passavam dos 30, Pantanal bateu a programação da TV Globo, quase do início ao fim - algo inédito até hoje com qualquer novela de qualquer emissora.
A trama tinha abordagem naturalista, com muitas das gravações feitas na própria região do Pantanal, sequências de nudez e elevou Cristiana Oliveira, a Juma Marruá, ao patamar de estrela. Nomes tais como Paulo Gorgulho, Marcos Palmeira e Marcos Winter também se destacaram.