Nos Estados Unidos, diferentemente da produção pornô hétero que é quase toda feita sem preservativos, os filmes adultos gays se dividem entre o bareback e aqueles com "capa".
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No entanto, há uma espécie de meio termo entre os dois tipos. São os filmes feitos com preservativo, mas que querem criar uma ilusão de que não há nenhum látex entre o ativo e o passivo. Chama-se "magic condom" (camisinha mágica).
O início dessa "ilusão" começa cedo nos estúdios. No início do dia, os atores gravam os teasers - com fotos e vídeos - de divulgação do filme e as cenas de sexo oral.
Neste momento, não há camisinha, mas também ainda não há penetração. São gravadas imagens do pênis de um encostando na boca, na bunda ou no ânus do outro.
Há uma pausa que pode levar quase duas horas até o início do filme propriamente dito. Neste momento, o diretor deixa a equipe à vontade para um café da manhã enquanto o passivo pode fazer/refazer sua ducha íntima.
Quando as filmagens retomam, a opção é não mostrar o ativo colocando o preservativo e unindo as cenas iniciais de sexo oral e pênis encostando no ânus com as seguintes, já com penetração, cria-se a ilusão de que nenhuma camisinha foi colocada.
Mas não é só isso. Mr. Pam, mulher cisgênero e uma das diretoras de pornô gay mais conhecidas atualmente, diz que usa técnicas para falsear a realidade.
Uma delas é usar preservativos da cor da pele dos atores e que não formam aquela borda de látex na base do pênis. Outra é não iluminar corretamente quando se faz um close.
"Às vezes, usamos iluminação com mais sombras para ocultar o preservativo", contou a cineasta ao Slate.
Ao site, Mr. Pam, que trabalha para o Nakedsword, e começou na área no fim dos anos 1990, disse que por muito tempo a regra na pornografia gay era sempre gravar com preservativos.
Isso começou a mudar no começo dos anos 2010, com o advento da PrEP (terapia pré-exposição ao HIV, que consiste na ingestão de uma pílula por dia e impede a infecção pelo vírus). Hoje, dos grandes estúdios gays, apenas GayHoopla e GayRoom, fazem 100% das vezes com preservativo.
Nas produções héteros no país, existe há muitos anos um controle severo de testes de sangue a cada uma ou duas semanas entre todos os atores e atrizes para que ninguém contraia doenças (já houve notícias de algumas contaminações, mas isso parece uma exceção).
Já dentre os filmes gays, o controle por testes não foi empregado com tanta eficiência. Um dos problemas é o contrato com rapazes estrangeiros que chegam ao país sem tempo de uma "janela de imunidade" - período que pode levar de duas semanas a três meses em que a pessoa pode ter sido contaminada e até o vírus aparecer em exames.
A diretora revela que a preferência dos espectadores é por pornô bareback. Por isso, a técnica da "magic condom" tem ajudado a vender os filmes. Por outro lado, é cada vez mais comum filmes totalmente sem camisinha.
A reportagem destaca um outro viés: o dos espectadores que preferem com preservativo (afinal, não é só HIV que se transmite pelo sexo) e sentem-se num mundo à parte com cada vez mais produções sem camisinha ou aparentemente sem ela.