Zona Rosa: conheça o bairro mais gay da Cidade do México

Lojas, bares, livraria, academia e ruas: o arco-íris está em toda parte

Publicado em 05/11/2022
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Calle Amberes é a que mais concentra estabelecimentos LGBT. Fotos: Guia Gay

Por Marcio Claesen e Welton Trindade, da Cidade do México

Faixas de pedestres pintadas de arco-íris, academia, muitos bares, bandeiras, rua peatonal, clubes e lojas tornam a região conhecida como Zona Rosa a mais LGBT não só da vibrante Cidade do México como da América Latina.

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Parte do distrito central de Juárez, a Zona Rosa é o lugar para onde sobretudo LGBT vão para se divertir, encontrar amigos e, claro, conhecer novos "crushes". São cerca de 40 estabelecimentos arco-íris.

Elegante, a área tem prédios antigos, hotel de luxo e grande feira de artesanato, e é muito arborizada - qualidade de todos as colônias (sinônimo para bairro no país) de classes média e alta da cidade, que comporta mais de 9 milhões de habitantes.

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Com parklet, bar e terraço, Cabaretito Punto y Aparte é um dos ícones da região

A área não é residencial. Poucos moram nas redondezas. A frequência é feita pelos executivos que trabalham nos prédios de grandes empresas nacionais e multinacionais próximos à Zona Rosa, por turistas e, principalmente à noite, por LGBT de várias partes da cidade

Por que se chama Zona Rosa?
O nome da região - que agora é oficial - foi criação do pintor José Luis Cuevas, explicou, ao Guia Gay, o diretor geral de Arquivos e Memórias Diversas, Alonso Hernandez. O coletivo reúne objetos e faz estudos sobre a história LGBT da capital mexicana - chamada comumente pela sigla CDMX. 

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Rainbowland: loja vende canecas, roupas, bandeiras e uma infinidade de itens arco-íris

"A alcunha da região veio de debate sobre como essa área que antes era 'branca' - cheia de butiques, bancos, joalherias, galerias, restaurantes -, terminou repleta de artistas, boêmios, homossexuais e prostitutas sem se tornar uma 'zona vermelha'. Conclusão: misturou os dois 'mundos', ficou rosa."

Um dos fatores que favoreceu tal mutação foi a chegada do metrô, nos anos 1970, o que tornou a área mais popular. 

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Esquina das calles Londres e Amberes ferve desde o fim da tarde

O lugar gay mais antigo da região é o Bar El Taller, que já foi propriedade de Luis González de Alba e hoje pertence ao ator Tito Vasconcelos e a seu marido, o empresário David Rangel.

Localizado em um sótão na Calle de Florencia, o endereço foi aberto na década de 1980 e passou por muitas mudanças. A principal delas, aponta Alonso, é que agora é misto - antes era exclusivo para homens homo ou bissexuais.

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Drink à base de cerveja e pimenta, a michelada tem grande saída nos bares da região

Na programação, há concurso de catrinas (personagem típica mexicana que é um esqueleto com o rosto pintado e muito bem vestida), dublagens de drag queens, noites com DJs e go-go boys. 

Com exceção do Nichos Bar e do Cabaretitos, que são do final dos anos 1990, a maioria dos espaços gays data do início dos anos 2000. 

E não estranhe se vir, nessa que é uma das maiores megalópoles do mundo, homens de bota alta, camisas decoradas, chapéus e jeans apertado como se prontos para uma montaria no campo. 

Vestir-se como homens rústicos da zonas rurais, enfim, como vaqueiros, é um fetiche gay na Cidade do México. A razão é uma só: símbolo máximo de masculinidade.

Essa prática é tão arraigada que há inclusive bares para encontros esses cabronese seus adoradores. Um deles fica exatamente na Zona Rosa, o agitado Vaqueros Bar, que, em outubro, fez concurso para escolher o Vaqueiro Maduro 2022-2023. 

E agende-se para as noites em que há professores que ensinam danças típicas mexicanas adaptadas para casais de homens. 

Sungas mínimas, livraria e reggaeton
Desde meados da década de 2000, a administração governamental abraçou o perfil LGBT da Zona Rosa e a "oficializou" com a pintura de várias das faixas de pedestres da região de arco-íris.

Escultura em que se lê "Love is love" (Amor é amor), nas cores do arco-íris, também ratifica que se trata de local de cultura e vivência da comunidade. 

Há, na região, mais de duas dúzias de bares que tocam, sobretudo, reggaeton, e começam a encher já no fim da tarde. Como em Chapinero (em Bogotá), há a prática um pouco invasiva de alguns dos bares de colocar pessoas nas calçadas para abordar transeuntes para dentro dos estabelecimentos.

Um adendo importante para os brasileiros não se assustarem. Você verá muito o nome "antro". Calma! Não se trata de lugar feio, sujo ou de prostituição, como é a acepção no português. Antro é apenas como se chama boate, clube com pista de dança no México. Curta muito los antros

O destaque no quesito diversão vai para os bares que oferecem diversos ambientes. Exemplo é o Cabaretitos Punto Y Aparte. Na movimentada rua Amberes, o local abre todos os dias a partir das 16h e oferece parklet para refeições, e, nos andares superiores, lugar com pista de dança, outro para apresentações de drag queens e terraço.

A alegria só tem um incoveniente: aceita-se pagamento apenas em dinheiro. Restrição, aliás, que você verá por toda cidade. Esqueça a comodidade que existe no Brasil de pagar tudo com cartões de crédito ou débito. 

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Com dois andares, a Mosko é uma das maiores lojas gays da região

Nas lojas - existem pelo menos uma dúzia delas voltadas aos homens gays - imperam as jockstraps, fios dentais, camisetas cavadas, shorts bem curtos e jaquetas chamativas tanto de marcas internacionais quanto muitas nacionais. 

Duas notícias boas para seu guarda-roupa (e seus fetiches) são os fatos de as lojas aceitarem cartão de crédito e de os preços serem bem acessíveis para quem mora no Brasil. 

Cidade do México não possui praia, mas os chilangos - nome informal para quem é da capital do país - se jogam nas sungas que podem chocar os gays brasileiros, pouco afeitos a ousadia na praia. 

Ao procurar as peças com laterais altas, você vai encontrar basicamente apenas as de fios de dois ou um dedo e muito cavadas. Pegue a sua e se jogue depois em Puerto Vallarta, no oeste mexicano e onde estão algumas das praias gays mais famosas do mundo. 

Ficam os votos para que depois você use sua sunga capitalina (gentílico da cidade) em Ipanema ou Praia Mole. 

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Cuecas, fios dentais, shorts: a 2Clovek é opção para gays na calle Londres

Seu passeio na Zona Rosa precisa incluir o misto de livraria e espaço cultural Somos Voces. O lugar tem programação quase diária de encontros sobre ativismo, temas para grupos específicos do acrônimo LGBT, aulas de teatro, shows musicais e de stand-up comedy e festas. 

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Livraria e espaço cultural, a Somos Voces tem extensa programação durante todo o ano

Completa o cardápio variado de endereços LGBT do bairro, a Rainbowland. A loja é inteiramente voltada a produtos arco-íris ou com temas voltados a LGBT - de chapéus a canecas, passando por colares, chaveiros e variados itens de decoração. ¡Mucho orgullo!

Uma hora ou outra você vai acabar na rua Gênova, que é peatonal, cheia de lojas, bares para turistas, ambulantes e que liga a estação de metrô Insurgientes com a majestosa avenida Paseo de La Reforma, e onde casais gays e lésbicos também se sentem muito acolhidos e à vontade. 

Na Gênova fica unidade da academia brasileira Smart Fit. Como não poderia deixar de ser em uma área gay, quase todos clientes são homens. Lycra e shortezinhos (mesmo) são quase o uniforme. 

Feira da resistência 
A Zona Rosa também é espaço para discursos e práticas de cunho político e social. Na saída da estação Insurgientes do metrô há a chamada Tianguis Sexodisidente (Feira Sexodiscidente). 

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Trans e queers vendem produtos na saída da estação de metrô

É ocupação de criadores e/ou vendedores ambulantes LGBT que expõem roupas, artigos arco-íris, objetos de sex shop e doces caseiros, por exemplo, em toalhas estendidas no chão. Há luzes de led, manifestações políticas e atos culturais. 

A área é ocupada, como diz o coletivo responsável, por trans, marica e lenchas(trans, viados e lésbicas) que lutam contra a violência econômica exercida contra corpos LGBT. 

O argumento é que a sociedade exclui o segmento do mercado de trabalho e que, para contrapor tal fato, a feira é lugar para que se possa conseguir dinheiro para a sobrevivência.

A tensão faz parte do dia-a-dia da feira, onde nossa reportagem foi avisada - sem polidez - que fotos são proibidas. O local é público. 

Em setembro de 2021, comerciantes legais da região atacaram vendedores da feira. A prefeitura teve de intervir para garantir a permanência e a segurança dos ambulantes arco-íris. 

Já em setembro deste ano, entretanto, a violência veio do outro lado. Evento feito na saída do metrô para celebrar o Dia da Visibilidade Bissexual foi invadido pelos ambulantes trans e queers. Houve até quebra de vidro do elevador para pessoas com deficiência. 

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Agito, compras, cultura e resistência se somam a muitas conquistas LGBT. É mais que comum ver casais gays e lésbicos de mãos dadas e aos beijos tanto na Zona Rosa quanto em várias outras áreas da Cidade do México. O clima é de muito respeito por parte dos capitalinos. 

O sistema jurídico do país determina autonomia para cada unidade governamental estadual ou distrital decidir se aceita ou não o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O pioneirismo aí coube exatamente à Cidade do México, em 2010. 

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São inúmeras as esquinas que possuem faixas pintadas nos tons do arco-íris no bairro

A marcha LGBT local é uma das maiores da América Latina. O metrô - que tem a rede mais extensa daquela região - exibe campanhas pró-LGBT o ano todo. O slogan da atual administração municipal é "Cidade inovadora e de direitos".

Por iniciativa de um deputado local gay, desde 2020 terapias de conversão de identidade de gênero e de orientação sexual são proibidas na cidade. 

Esse farol agora ilumina ainda mais. Desde outubro de 2022, todo o país reconhece o casamento homossexual, o que ajudou o México a entrar no rol de nações com mais direitos para o segmento no mundo. 

 

Você já ouviu os lançamentos de artistas LGBT ou com foco na comunidade? Siga nossa playlist Rainbow Hits 2022 no Spotify que é atualizada constantemente com as melhores do ano do pop, eletrônico e MPB de várias partes do mundo.

 


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