A editora responsável por Aparelho Sexual e Cia., que conservadores e intolerantes chamam de "kit gay", avisou que tem intenção de reeditá-lo no Brasil.
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Em entrevista ao Jornal Nacional, na terça-feira 28, o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) voltou a a atacar o livro e com mentiras.
Em comunicado, a Companhia das Letras diz que a obra está esgotada e com contrato expirado, mas que está em contato com os responsáveis para a possibilidade de publicá-lo novamente no Brasil.
Ao contrário do que prega Bolsonaro, o livro não é para crianças de 6 anos, mas, sim para jovens entre 11 e 15 anos. A obra já foi traduzida para 10 línguas e vendeu mais de um milhão e meio de exemplares.
No Brasil, o livro jamais foi destinado a escolas, como é veiculado por muitos. Foram negociados com o governo 28 exemplares destinados a bibliotecas públicas.
Leia o comunicado da editora:
São Paulo, 29 de agosto de 2018 – A editora Companhia das Letras reitera que confia no conteúdo do livro "Aparelho sexual e Cia", uma obra que enfoca todos os aspectos da sexualidade, com sólida base pedagógica e rigor científico. Justamente por sua seriedade e pela importância do tema — cuja dificuldade de tratamento foi superada pela leveza na abordagem de assuntos como a paixão, as mudanças da puberdade, a contracepção, doenças sexualmente transmissíveis, pedofilia e incesto —, a obra foi publicada em 10 línguas, vendeu mais de um milhão e meio de exemplares no mundo, e foi transformada em exposição, que ficou em cartaz duas vezes na Cité des Sciences et de l'Industrie, em Paris, e viajou por 7 anos pela Europa, sem que tivesse recebido qualquer acusação ou reprimenda. Ao contrário, virou um modelo de como informar os jovens sobre temas importantes e incontornáveis, a partir de um de um tratamento comprometido e cuidadoso.
Gostaríamos de lembrar que "Aparelho sexual e Cia" foi lançado pelo selo juvenil da editora em 2007, e no nosso catálogo era sugerido para o 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, ou seja, para alunos de 11 a 15 anos. A indicação de cada escola é livre, a Companhia das Letras não tem nenhuma interferência sobre ela
O conteúdo da obra nada tem de pornográfico, uma vez que formar e informar as crianças sobre sexualidade com responsabilidade é, inclusive, preocupação manifestada pelo próprio Estado por meio de sua Secretaria de Cultura do Ministério da Educação que criou, dentre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), um específico à "Orientação Sexual" para crianças, jovens e adolescentes. O livro conta ainda com uma seção chamada "Fique esperto", que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia — mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do Disque-denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Ao contrário do que afirmou erroneamente o candidato à Presidência em entrevista ao Jornal Nacional na noite de 28 de agosto, ele nunca foi comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto "kit gay". O Ministério da Cultura comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas.
Como o livro está esgotado, e o seu contrato, expirado, a editora está em contato com os proprietários para avaliação da possibilidade de disponibilizá-lo, novamente, para o público brasileiro.