Homem se assume gay aos 90 anos e dá conselho aos jovens

Ele percebeu-se homossexual aos 12 anos, viveu grande amor nos anos 1950 e tem filha lésbica

Publicado em 19/06/2020
90 anos idade outing
 'Eu não tinha coragem de enfrentar a sociedade naquela época, então, enterrei isso'

Não há idade certa para se assumir. Uns saem do armário aos 13 anos, outros aos 18, aos 25... e até aos 90!

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Foi o que ocorreu com o norte-americano Kenneth Felts. Só recentemente ele contou a familiares e amigos que é e sempre foi gay.

De fato, Felts sequer planejava esse "outing" tardio. O segredo iria para o túmulo.

Sua visão sobre o assunto foi mudada após começar a escrever sua autobiografia durante a quarentena pela covid-19. 

Memórias vieram à mente do nonagenário, em especial, o grande amor da sua vida: um homem chamado Phillip.

Os dois se apaixonaram na Califórnia, nos anos 1950, mas Felts preferiu seguir sua vida passando-se por heterossexual.

Ele casou, teve uma filha, divorciou-se. Enquanto conversava com a filha, Rebecca, ele deixou escapar o arrependimento que tinha por ter deixado Phillip. Foi a primeira vez que ele abordou o tema com ela.

Curiosamente, 20 anos atrás, foi Rebecca quem se revelou ao pai. Pouco depois de se formar na faculdade, a filha se declarou lésbica. Felts apoiou Rebecca mas nem isso foi suficiente para que ele mesmo se abrisse.

Após finalmente se assumir para Rebecca, Felts se encheu de coragem e enviou e-mails a amigos e postou no Facebook uma mensagem.

No texto, ele explicava que sempre sentiu que tinha duas personalidades vivendo dentro dele: Ken, um homem heterossexual, e Larry, um homem gay. Depois de anos reprimindo Larry, era hora de libertá-lo.

"Eu estive no armário a vida toda - no fundo do armário, atrás de linhas e linhas de roupas", contou ao Denver Post.

"Abrindo a porta da frente, fiquei com muito medo do que as pessoas diriam. Fiquei muito preocupado porque precisava das pessoas e não aguentava perdê-las só porque decidi finalmente ser quem realmente era."

Entusiasmado com as reações positivas, Felts passou a mostrar seu orgulho pela homossexualidade. Ele comprou uma bandeira arco-íris que aparece de fundo nas reuniões on-line que faz com grupos LGBT e passou a ajudar ativamente a arrecadar recursos para entidades arco-íris.

"Ele parece estar recuperando o tempo perdido, o que é fantástico", disse sua nora, Tracie Mayes, casada com Rebecca.

"Assumir-se nos anos 1950, 1960, 1970 era horrível", lembrou Felts, que nasceu em 1930, no Estado do Kansas, e percebeu-se gay aos 12 anos. 

"Isso é parte do motivo do porquê nunca pensei em me assumir. Não havia comunidade gay, organizações ou algo assim. As pessoas saíam [do armário] por conta própria, sem apoio. E acho que não tinha coragem de enfrentar a sociedade naquela época, então fui em frente e enterrei isso."

Ele estudou, formou-se e trabalhou por 30 anos como conselheiro e supervisor da Divisão de Reabilitação do Colorado. 

Um ponto ele deixou claro para Rebecca: Felts não se arrepende de ter se casado, já que sem esse relacionamento ele não teria tido a filha que tanto ama.

Hoje, Felts gosta de escrever, fazer jardinagem em sua casa na cidade de Arvada e passar um tempo com Rebecca, Tracie e seus dois netos.

Ele diz que espera que sua abordagem mais tarde do que nunca inspire outras pessoas, mesmo que elas tenham passado anos fingindo ser outra pessoa.

Nunca é tarde demais para ser você mesmo, ele disse.


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