Ao menos 24 pessoas foram presas, espancadas ou ameaçadas em quase dois meses por sua orientação sexual ou identidade de gênero na República dos Camarões.
Os dados são da entidade Human Rights Watch, que analisou relatórios policiais, médicos e de ONGs do país africano, entre 17 de fevereiro e 8 de abril.
"Essas recentes prisões e abusos levantam sérias preocupações sobre um novo surto de perseguição anti-LGBT nos Camarões”, disse Neela Ghoshal, diretora associada de direitos LGBT da Human Rights Watch.
"A lei que criminaliza a conduta do mesmo sexo coloca as pessoas LGBT em alto risco de serem maltratadas, torturadas e agredidas sem quaisquer consequências para os abusadores."
No país, há lei que pune com até cinco anos de prisão a homossexualidade (a transexualidade costuma ser penalizada dentro dessa legislação).
Em 24 de fevereiro, por exemplo, policiais invadiram a sede de uma organização que fornece serviços de prevenção e tratamento ao HIV, chamada Colibri, em Bafoussam.
Ali, 13 pessoas foram presas sob acusação de homossexualidade, incluindo sete funcionários da ONG. Todos foram libertados entre 26 e 27 daquele mês.
Três dos presos contaram que a polícia agrediu fisicamente ao menos três dos funcionários na delegacia e que ameaçou e agrediu verbalmente todos as pessoas.
Os policiais também os ouviram sem a presença de advogados e os obrigou a assinar declarações sem permissão de lê-las antes.
Uma dessas pessoas, uma mulher transexual de 22 anos, relatou o que sofreou. "A polícia nos disse que somos demônios, não humanos, não normais. Eles bateram no rosto de uma mulher trans e a esbofetearam duas vezes na minha frente."
A Human Rights Watch documentou anteriormente que promotores em Camarões introduziram relatórios médicos baseados em exames anais forçados no tribunal, contribuindo para condenações de indivíduos acusados de conduta homossexual consensual.