Ela quer levar um pouco de glitter e muita luta por LGBT, pela cultura e contra o racismo para o Congresso Nacional. A drag queen Ruth Venceremos, feita por Erivan Santos, quer ser a primeira artista do gênero a receber o diploma de deputado federal.
Nas fileiras do PT, "Ruth" é formada em pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e mestre em educação pela Universidade de Campinas, integra o Movimento Sem Terra e fundou o coletivo Distrito Drag, sediado em Brasília e um dos principais do País na profusão e defesa da arte transformista.
E transformar é o verbo que ela quer permanacer a conjugar no Congresso Nacional. "Eu sou uma bicha preta. Sou nordestina. Sou sem-terra. Sou drag queen. Minha presença na Câmara dos Deputados, por si só, renova e inova as estruturas da política institucional."
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT, mas ainda há desafios para a cidadania arco-íris. Quais suas propostas para que o Brasil avance nesse campo?
Tivemos conquistas pontuais em normativas, decretos e regras em alguns níveis da administração pública, e, portanto estão no campo formal, o que é importante, mas ainda estamos bem distantes de efetivarmos de fato a cidadania LGBTQIA+ como política de Estado.
Por isso é necessário que o Congresso Nacional aprove leis pró-cidadania LGBTQIA+. Tivemos avanços importantes durante os governos de Lula e Dilma, mas retrocedemos muito depois disso, e esse retrocesso tem avançado gravemente durante o governo de Bolsonaro.
As políticas públicas estão enfraquecidas e a sociedade está desinformada, confundida, não por acaso. Pois é assim que Bolsonaro se estrutura.
Minhas propostas, portanto, são fortalecer e ampliar as políticas públicas de proteção à comunidade LGBTQIA+, não apenas para combater preconceitos, violências e efetivamente proteger a vida e o corpo dessas pessoas, mas para também conseguirmos educar a sociedade como um todo sobre a urgência de superarmos coletivamente a intolerância contra a nossa comunidade, e para gerar oportunidades de estarmos presentes em todos os espaços da sociedade, porque nossas presenças afirmam, educam, tornam as pessoas ao redor mais capazes de lidar com a diversidade.
Fora a questão LGBT, quais seus projetos para a população em geral?
Meus projetos passam por algumas questões estruturais para a população do Distrito Federal e do Brasil. Em primeiro lugar, porque é o mais urgente é combater a fome integrando políticas públicas, entidades que já atuam nesse combate e fortalecendo a agricultura familiar.
Precisamos fazer o Brasil produzir alimento saudável e barato, e distribuir esse alimento pra quem precisa!
Além disso, vamos atuar nas políticas públicas de proteção e emancipação das mulheres, principalmente as mães chefes de família, da juventude, com atenção especial à juventude negra.
E como sou pedagoga, transfiro todo minha experiência nesse campo para fazer um mandato comprometido com a recuperação de toda a estrutura orçamentária e de políticas públicas que garantam o acesso universal à educação pública e gratuita de qualidade, desde a alfabetização até o ensino superior.
No campo da cultura, meu mandato vai atuar para fomentar e fortalecer a cadeia produtiva da indústria criativa, com apoio a eventos, festivais e atividades culturais, de tecnologia, de serviços e de consumo, promovendo a diversidade, a inovação, a inclusão social e a sustentabilidade.
Em que seu mandato vai se diferenciar ou inovar em relação ao que se tem na política atualmente?
Eu sou uma bicha preta. Sou nordestina. Sou sem-terra. Sou drag queen. Eu sou e existo de forma contrária a tudo o que a ultra-direita defende. Minha presença no plenário da Câmara dos Deputados, como uma igual a todas as outras pessoas, por si só, renova e inova as estruturas da política institucional, através do voto, ou seja, em resposta popular ao contexto de retrocesso atual.
Mas eu não estou só nessa caminhada. Sou fruto de uma construção coletiva, tanto como sem-terra, como quanto artista LGBTQIA+, e esse projeto político coletivo, plural e diverso desde o princípio, também garante que a gente possa fazer política olhando pra novos horizontes por onde vamos caminhar, como sociedade, coletivamente.
Essa entrevista faz parte de série do Guia Gay Brasília com candidaturas de pessoas LGBT. O objetivo é dar visibilidade as suas propostas de forma a colaborar com a decisão do segmento arco-íris e simpatizantes na hora do voto.