Uma polêmica envolvendo a cineasta Marina Person e a comunidade LGBT apareceu nas redes sociais nos últimos dias e resultou em uma obra artística retirada de circulação.
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O responsável pelo embate foi o docudrama Livre Estou, realizado por Marina para o portal UOL.
Com a proposta de investigar a comunidade LGBT, a cineasta escolheu a festa Fejão, voltada a drag queens, em São Paulo, como locação.
Na segunda-feira 8 e terça-feira 9, dezenas de críticas ao filme foram postadas no canal Movdoc no Youtube.
Vários dos comentários eram de pessoas que participaram da filmagem e não concordaram com a abordagem da diretora. Nesta quarta-feira 10, a diretora excluiu o filme do Youtube.
Explica-se: no filme, o ator Thiago Amaral vive um heterossexual que vai por acaso à festa drag queen. Lá, ele faz questionamentos sobre travestilidade, transexualidade e a cultura drag queen aos frequentadores e artistas.
A forma direta como Thiago se dirige às pessoas no filme incomodou frequentadores e espectadores da obra.
A uma pessoa, o personagem pergunta o que é um drag king; a outra, uma mulher transexual, ele quer saber seu nome masculino e se fez cirurgia.
Enquanto algumas pessoas lhe respondem, no filme, de forma polida, a dona da festa, a DJ Buba, não faz rodeios e quase encerra a conversa.
"Insensível", "desrespeitoso" e "transfóbico" foram alguns dos comentários sobre o filme após Buba e participantes do evento se mobilizarem na internet para denunciá-lo.
Em entrevista à nossa reportagem, Marina contou que estava assimiliando as críticas. "Eu quero me colocar muito mais numa posição de escuta do que de justificativa."
"Escolhi a festa Fejão porque de tudo que vi na pesquisa sobre esse universo drag, a Fejão parecia a festa mais democrática, o ingresso é barato, tinha pessoas de muitas origens, muitos tipos - não eram só drag queens, eram drag queers, drag kings - muitas idades. Me pareceu a festa mais inclusiva e mais diversificada", explicou.
Sobre o conceito do filme, a cineasta contou que a ideia foi colocar o ator como um personagem "que vem de fora, inadequado, que não sabe onde ele está entrando" e que "coloca perguntas que estão, digamos assim, na maior parte da sociedade brasileira, dentro dessa heteronomatividade".
"Mas, de fato, algumas perguntas foram ofensivas e, sobretudo, acho que pra Buba, que foi quem conseguiu mobilizar grande parte do público que frequenta a Fejão e fez algo que virou uma bola de neve."
Segundo Marina, nem ela mesma sabia como seria a abordagem de Thiago. O ator trabalhou com improvisação.
A respeito da crítica de que a equipe teria sido rude com frequentadores e que ninguém da festa tivesse autorizado direitos de imagem, Marina nega.
"Nossa equipe foi super respeitosa", explicou. "A reclamação de que não temos autorização não corresponde aos fatos."
Ao lidar com uma questão tão sensível, talvez pudesse ter se aberto mão do inesperado e informado a alguns dos artistas sobre como seria a abordagem.
Outra opção, ainda que frequentadores tivessem sentido-se mal com as filmagens, seria uma embalagem mais cuidadosa no produto final, contextualizado, de forma didática, sobre como não abordar travestis e transexuais.