Por Marcio Claesen
Está disponível na Mostra Play, versão on-line da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário Welcome to Chechnya (Bem-vindo a Chechênia, em tradução livre).
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Se você puder ver apenas um filme de temática LGBT até dia 5 (prazo final em que o título fica disponível ao público), não tenha dúvida, veja este.
É impossível não fazer a conexão do longa dirigido por David France com a ditadura militar ou o Holocausto.
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O que aumenta a angústia, no entanto, é ser confrontado com o fato de que, neste caso, a perseguição e matança de pessoas não é algo do passado para ser aprendido, refletido e combatido.
Na república russa da Chechênia, gays e lésbicas são perseguidos hoje, agora, no nosso tempo.
O documentário apresenta e acompanha um abrigo secreto em Moscou criado por pessoas que se indignaram com relatos de tortura que teriam começado em 2017.
São pessoas comuns - jornalistas, publicitários, músicos, fotógrafos, professores - que trocaram seus planos profissionais por uma causa humanitária.
A intolerância a homossexuais ganhou repercussão quando em uma batida policial contra drogas, autoridades invadiram o celular de um homem e descobriram fotos explícitas de sexo gay.
Torturado, ele foi obrigado a passar contatos de cerca de dez gays. Em uma reação em cadeia, a polícia fez o mesmo procedimento com cada uma das pessoas presas.
Quando os relatos chegaram à capital do país, pessoas se mobilizaram para ajudar.
"Nenhum de nós tinha experiência em esconder pessoas, procurar vistos e caminhos secretos para tirar pessoas do país", conta Olga Baranova, diretora do Centro Comunitário de Moscou para Iniciativas LGBT.
E é exatamente isso que eles fazem. Por celular, perseguidos entram em contato com a rede de apoio em Moscou. Assim que chegam à capital, eles são escondidos no abrigo e uma corrida contra o tempo começa para que vistos sejam conseguidos e países os recebam.
Nesta articulação do bem, os ativistas conseguiram apoio de embaixadas e entidades de inúmeros países, que facilitam o trâmite e lhes dão suporte financeiro.
A maioria dos perseguidos que chega à capital russa é de gays. Lésbicas também são discriminadas na Chechênia, mas elas encaram uma dificuldade a mais.
Em uma sociedade de maioria muçulmana, as mulheres têm menos direitos de ir e vir e poucas chances de saírem da república sozinhas.
No caso delas, a intervenção dos ativistas é maior e a operação montada para resgatá-las chega a ir até Grozny, capital chechena.
Um caso importante retratado é de Maxim Lapunov, organizador de eventos que sequer morava na Chechênia - estava lá a trabalho.
Preso e torturado por dias, o rapaz foi libertado, mas chamou atenção por se prontificar a denunciar o governo local.
Após ameaças de morte, toda a sua família e seu namorado de 10 anos precisaram entrar no esquema de proteção da Rede LGBT da Rússia.
A dor da escolha de Maxim dar voz a centenas (talvez milhares) de oprimidos perpassa o documentário.
Enquanto isso, questionado sobre a barbárie instalada em seu governo contra os homossexuais, o presidente checheno Ramzan Kadyrov faz pouco caso e os chama de "sub-humanos".
"Não temos essas pessoas aqui", diz a um repórter. "Não temos nenhum gay. Se tiver algum, pode levar para o Canadá. Louvado seja Alá. Para purificar nosso sangue, se houver algum aqui, leve-o."
Urgente, tocante, necessário, Welcome to Chechnya é retrato da perseguição sofrida por nossa comunidade do outro lado do mundo, mas também de heróis que insurgem de governos autoritários e genocidas.
Aviso: o filme contém relatos e imagens fortes, incluindo tentativa de suicídio. É necessário cautela se você estiver passando por situações psicoemocionais conturbadas.